Processo de Produção do Barro Negro de Molelos inscrito no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial
O Património Cultural, Instituto Público (PC, IP) aprovou a inscrição do Processo de Produção do Barro Negro de Molelos no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial (INPCI), conforme despacho de 20 de março de 2025 assinado por João Soalheiro, Presidente do Conselho Diretivo, e publicado hoje em Diário da República.
Com este registo, a atual comunidade de oleiros do Concelho de Tondela vê reconhecida pelo Estado português uma arte com um lastro histórico que remonta ao início do século XVI, como provam fontes documentais estudadas pelo historiador Helder Abraços, no decurso da investigação que realizou para a submissão desta candidatura.
Na fundamentação histórica são relacionadas fontes que caracterizam a paisagem natural, na sua dimensão geológica, pela presença das jazidas de argila da Carvalheira e de Casal do Rei, de onde são extraídos os diversos tipos de barros.
No presente, a produção de barros negros circunscreve-se à Freguesia de Molelos, Concelho de Tondela. São sete, os oleiros e as oleiras que fazem uso de métodos e técnicas artísticas que resultam na transformação da matéria-prima em peças funcionais e decorativas. O saber-fazer continua a ser transmitido aos filhos e netos, tal como o receberam dos pais e avós, assegurando a continuidade da arte.
Deste modo, foi a aprendizagem pela observação e repetição dos gestos ancestrais que moldou a nova geração de oleiros de Molelos. O oleiro Luís Lourosa relembra que as raízes são muito importantes: “Tivemos a felicidade de crescer ao lado do meu avô, da olaria do António Marques, e de sempre convivermos com o barro e a roda e a soenga.” (Lourosa, 2023)”.
Atualmente, a cozedura do barro é realizada em fornos de lenha e gás. A soenga é um processo tradicional de cozer o barro ao ar livre, depositado numa cova feita na terra, em que é criada uma atmosfera sem oxigénio, com a colocação do torrão e madeira que as matas fornecem e que torna as peças negras depois da cozedura.
“A roda, a preparação do barro, a enforma e a desenforma, o brunir, a apanha de caruma, da lenha e os torrões para a soenga sempre fizeram parte da vida destes oleiros, ou através dos avós, dos tios, dos vizinhos, ou porque cresceram em Molelos e estas práticas eram quotidianas. “, refere Helder Abraços.
As peças produzidas têm funções diversas “(…) vão ao lume, ao forno, servidas à mesa, designadas por ‘louça grossa’, com uma decoração muitíssimo reduzida ou mesmo inexistente, mas todas elas brunidas, o que não acontecia com os oleiros das gerações passadas; e peças de carácter decorativo, chamadas de ‘louça fina ou decorativa’”.
Os processos de produção tradicionais conjugam-se hoje com tecnologia mais recente empregue na preparação do barro e moldagem de peças por meio da prensagem. A aplicação de modelos inovadores nas formas de produção dos barros negros tem vindo a esbater as fronteiras entre artesanato e arte.
A internacionalização dos barros negros tem vindo a traduzir-se num maior reconhecimento dos artesãos e da sua arte. “Na contemporaneidade, a produção de barro negro que respeita o saber-fazer ancestral conquistou um lugar de destaque na promoção turística e económica da região centro, e do país”.
Ao inscrever o Processo de Produção do Barro Negro de Molelos no INPCI, o PC, IP reconhece a importância deste saber-fazer enquanto prática identitária de uma comunidade, os processos sociais e culturais envolvidos, o esforço na sua salvaguarda e a relevância da manifestação para o desenvolvimento sustentável nos territórios onde se pratica.
Anúncio nº89/2025, Diário da República, 2ª série, de 02 de abril de 2025.