Danças Rituais dos Pauliteiros nas Festas Tradicionais de Miranda do Douro inscritas no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial
O Património Cultural, Instituto Público (PC, I.P.) aprovou a inscrição das Danças Rituais dos Pauliteiros nas Festas Tradicionais de Miranda do Douro no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial (INPCI), conforme despacho de 26 de março de 2025, assinado pelo presidente do Conselho Diretivo, João Soalheiro, e publicado hoje em Diário da República.
A inscrição das Danças Rituais dos Pauliteiros nas Festas Tradicionais de Miranda do Douro no INPCI reflete os critérios constantes no artigo 10.º do Anexo ao Decreto-Lei n.º 149/2015, de 4 de agosto, destacando a importância da manifestação do património cultural imaterial enquanto reflexo da identidade da comunidade envolvente, a sua profundidade histórica e evidente relação com outras práticas inerentes à comunidade.
Não se consegue precisar a origem das danças dos pauliteiros ou de paulitos, podendo tratar-se de uma sobrevivência da denominada “dança de espadas”, segundo alguns danças pírricas de origem helénica introduzidas pelos Romanos na Península Ibérica.
As danças ou lhaços, designação em língua mirandesa que engloba a coreografia, o texto e a melodia que os dançadores executam, sucedem-se segundo uma ordem que inclui uma entrada assinalada pelo gaiteiro. De seguida anuncia-se o lhaço, com a execução de alguns compassos, para que os dançadores identifiquem a melodia. Segue-se a exibição do lhaço, repetido quatro vezes, e o culminar do mesmo com uma dança que se designa por “bicha”.
São oito as festas em que as danças rituais mirandesas dos pauliteiros marcam uma presença assinalável, nomeadamente São Brás e Santa Bárbara (Cércio), Festa dos Moços ou S. João Evangelista (Constantim), Nossa Senhora do Rosário (Palaçoulo, Póvoa e S. Martinho), Santa Bárbara (Prado Gatão), Santo Isidro Lavrador (Quinta do Cordeiro), Festa do Menino Jesus e Nossa Senhora do Rosário (Póvoa).
Na constituição dos grupos de Pauliteiros junta-se o Gaiteiro, um tocador de caixa e um tocador de bombo. Na aldeia de Constantim junta-se-lhes um Tamborileiro ou “Tamboriteiro”, como é designado nas terras de Miranda. As danças rituais dos pauliteiros nas referidas Festas distinguem-se de outras exibições que têm lugar fora destas práticas de cariz religioso e que evidenciam, sobretudo, o valor performativo de um espetáculo que adquiriu reconhecimento social.
Na Festa dos Moços ou S. João Evangelista, o dia começa com rondas de peditório, em que pauliteiros e gaiteiros percorrem as ruas da aldeia, acompanhados pelos “mordomos” e convidando todos à participação. Já na missa, interpretam-se danças do reportório dos pauliteiros, como por exemplo a dança de laços – “Ato de Contrição”, também designado “Senhor Mio” – e toques de gaiteiros como “Elevação da Hóstia”, “Queremos Deus” e “Miraculosa”. As danças que encerram a festa religiosa e abrem a dimensão “lúdica e profana” também constituem momentos estruturantes desta festividade.
Num contexto de transmissão dinâmica, os mais velhos partilham com os mais novos as memórias consolidadas a partir de sucessivas participações ao longo da vida nas celebrações. Como agentes mais ativos de transmissão são referidos os “festeiros”, a comunidade mais velha de homens e mulheres, nos quais se incluem os pauliteiros, elementos integrantes das antigas mordomias e a comunidade em geral. No caso dos pauliteiros são transmissores os ensaiadores, que por norma são antigos melhores dançadores.
O pedido de registo das Danças Rituais dos Pauliteiros nas Festas Tradicionais de Miranda do Douro no INPCI foi apresentado pela Câmara Municipal de Miranda do Douro, que providenciou investigação associada a esta prática religiosa, abrangendo o domínio da história e a aplicação de métodos e técnicas de pesquisa em antropologia, com o objetivo de alcançar conhecimento relevante sobre os modos das suas expressões e representações culturais, recriadas anualmente pelas comunidades e indivíduos que nelas constroem formas de pertença social e de identidade coletiva.
Anúncio nº104/2025, Diário da República, 2ª série, de 07 de abril de 2025