Bolo de Tacho Inscrito no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial
O Património Cultural, Instituto Público (PC, IP) aprovou a inscrição do Bolo de Tacho no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial (INPCI), conforme despacho de 26 de março de 2025, assinado pelo presidente do Conselho Diretivo, João Soalheiro, e publicado hoje em Diário da República.
O Bolo de Tacho ou Bolo de Milho e Bolo de Maio, como também é conhecido, é uma receita que nos introduz no domínio das práticas sociais, rituais e eventos festivos. Estamos na presença de um doce típico da gastronomia de Monchique, com expressão nas três freguesias do município: Monchique, Marmelete e Alferce.
Desconhece-se as suas origens precisas, embora fontes orais indiquem que o bolo é confecionado há, pelo menos, 200 anos.
Tradicionalmente confecionado em maio para assinalar o feriado nacional e, durante algum tempo, o municipal, no dia 1 desse mês, o Bolo de Tacho promove e fortalece os laços entre a população.
São comuns os grupos que se organizam para ir “desmaiar” para os campos, onde a confraternização e a partilha de bolos resulta num entusiástico consumo coletivo e na consequente troca de apreciações sobre o gosto, o aroma, a textura, a cor da diversidade de bolos em prova.
Atualmente a sua confeção já ocorre ao longo de todo o ano, mas a história e a tradição associada a este dia mantêm-se através de momentos de grande convivência entre as comunidades locais.
Considerado uma “iguaria” e uma “delícia”, que é “única e da terra”, o Bolo de Tacho é, por isso mesmo, “uma das coisas que melhor representa Monchique”, e que muitos se orgulham de ter aprendido a fazer.
Esta “iguaria” foi-se enraizando no tecido social e cultural das comunidades locais pelo uso de ingredientes originários dos recursos endógenos, tais como a farinha de milho, o azeite, o mel e a banha de porco, e em processos de confeção que usam técnicas ancestrais e que têm passado de geração em geração, no contexto das unidades familiares, sobretudo de avós para netas e de mães para filhas, e na rede de vizinhanças. No presente, o interesse na confeção do Bolo de Tacho alargou-se aos indivíduos do sexo masculino.
A confeção do Bolo de Tacho ocorre maioritariamente de forma individual. Geralmente, cada pessoa faz este bolo na sua própria casa, onde possui, para além do forno, todo o material necessário à confeção, como alguidar, colheres de mexer e formas, usualmente tachos. Por vezes, podem existir situações em que duas ou mais pessoas se juntam no mesmo espaço e fazem o Bolo de Tacho, seguindo a mesma receita, ou não, e partilhando opiniões. Todavia, cada uma fá-lo de forma particular.
A proposta de inscrição do Bolo de Tacho no INPCI foi apresentada pela Junta de Freguesia de Monchique, que para o efeito apoiou uma investigação no terreno levada a cabo por Ana Rita Mateus, Mestre em Gestão e Valorização do Património Histórico e Cultural.
Conforme relataram alguns entrevistados nessa pesquisa, há ainda quem siga a receita e o método de confeção tal qual como aprendeu com os seus antepassados, mas há também quem o faça com algumas alterações em relação à fórmula que herdou. É opinião geral de que “o bolo nunca fica igual”.
A inscrição do Bolo de Tacho no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial reflete os critérios constantes no artigo 10.º do Anexo ao Decreto-Lei n.º 149/2015, de 4 de agosto, com destaque para a importância da manifestação do património cultural imaterial enquanto reflexo da respetiva comunidade ou grupo, a par dos processos sociais e culturais nos quais teve origem e se desenvolveu até ao presente.
Neste registo foram também consideradas as dinâmicas da manifestação na contemporaneidade, os modos em que se processa a sua transmissão, bem como a articulação com as exigências de desenvolvimento sustentável e de respeito mútuo entre comunidades, grupos e indivíduos, nos territórios onde se pratica.
Fotografia de José Gonçalo N. D. da Silva e Ana Rita Mateus | Junta de Freguesia de Monchique
Anúncio nº100/2025, Diário da República, 2ª série, de 04 de abril de 2025.