Especialista do LARC publica estudo na revista Vegetation History and Archaeobotany sobre as madeiras mais usadas por comunidades neolíticas na Gruta de Dehesilla, em Cadis
Patrícia Monteiro, do Laboratório de Arqueociências, do Património Cultural, Instituto Público (PC, I.P.), especialista em antracologia, é uma das investigadoras envolvidas no projeto num estudo agora publicado na revista científica Vegetation History and Archaeobotany, sobre a gruta de La Dehesilla, Cádiz, no sul de Espanha, que foi ocupada durante o Neolítico, entre 6º e 4º milénio A.C.
Em resultado de várias escavações arqueológicas, realizadas no âmbito do projeto NeoProModels: Patterns and processes in the Neolithization of the South of the Iberian Peninsula, os investigadores identificaram níveis e contextos estratigráficos correspondentes a atividades domésticas e funerárias datadas do Neolítico Antigo, Médio e Final.
A partir dos contextos estratigráficos, Patrícia Monteiro analisou amostras de carvão e conseguiu determinar pela primeira vez quais os tipos de madeiras mais utilizados na gruta de La Dehesilla e para que finalidades.
Verificou-se o “uso de uma diversidade de espécies de madeira para combustível por parte das comunidades neolíticas que ocuparam a gruta, com especial incidência pela madeira de zambujeiro. O uso do fogo para atividades diferenciadas de cariz doméstico e funerário” e “consumo de madeira para combustível, coincidente com atividades de desflorestação levadas a cabo para atividades agrícolas”, explica Patrícia Monteiro.
Os “resultados apontam para um consumo oportunista da madeira disponível e mais acessível na paisagem, também sintomático da elevada demanda de energia para produção de fonte de iluminação no interior da gruta e para a realização de várias atividades quotidianas que usam o fogo, tais como a confeção de alimentos e produção de cerâmicas”, conclui.
Para além disso, através deste estudo os investigadores conseguiram perceber que o uso de certas madeiras para produzir fogo na Gruta de La Dehesilla foi feito de acordo com o tipo de árvores disponíveis nas imediações e que esse comportamento coincidiu com uma maior prática agrícola daquelas comunidades.
“O estudo identificou uma alteração na forma como estas comunidades estavam a recolher a madeira para combustível ao longo da ocupação, coincidente com uma intensificação das atividades agrícolas que terão motivado a deflorestação, também ela evidente nos dados polínicos”, afirma Patrícia Monteiro.
“Isto são dados coincidentes com padrões já identificados noutros sítios, mas até então desconhecidos para este sítio em particular e que vêm reforçar um modelo regional”, explica a investigadora e adianta que “este é um sítio muito importante devido à larga diacronia de ocupação desde o início ao fim do período Neolítico, pela diversidade e integridade dos contextos arqueológicos identificados, tanto de cariz funerário/ritual, como ao nível da ocupação doméstica relacionada com atividades quotidianas”.
Portanto, acrescenta “a investigação interdisciplinar em curso, onde se insere este trabalho, será determinante para caracterizar estas comunidades agropastoris pré-históricas ao nível regional”.