
EEA Grants Cultura – Património Cultural, I.P. fortalece relações científicas com a Noruega
O Património Cultural, Instituto Público promoveu no dia 19 de fevereiro o Workshop bilateral (Portugal-Noruega) SALVAGUARDA DO PATRIMÓNIO ARQUEOLÓGICO COSTEIRO EM RISCO, no âmbito do programa bilateral EEA Grants Cultura, no Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática (CNANS).
Do encontro fez parte uma comitiva de especialistas da Riksantikvaren – Directorate for Cultural Heritage, os quais tiveram a oportunidade de partilhar experiências, apresentarem projetos científicos e ações em curso na Noruega, assim como ficar a conhecer os trabalhos em desenvolvimento em Portugal em torno do património arqueológico costeiro em risco.
No centro das preocupações esteve principalmente a forma como as alterações climáticas estão crescentemente e com o passar dos anos a pôr em risco o património cultural costeiro através da subida do nível do mar e da erosão costeira, e como, consequentemente, alguns sítios arqueológicos costeiros estão hoje quase “engolidos” pelo mar, muitos dos quais seriamente ameaçados. Mas as ameaças não se verificam apenas em terra, dado que os investigadores identificaram também vários riscos associados ao património subaquático.
Vegard Berggård da Riksantikvaren – Directorate for Cultural Heritage explicou que «muitas das preocupações levantadas estão relacionadas com a erosão e como este processo é exacerbado pelas alterações climáticas. Não se trata apenas da subida do nível do mar, mas também de mais tempestades, de chuvas mais intensas, de secas mais severas e de um clima geralmente mais selvagem. Isto coloca o património cultural sob maior pressão».
Mas ao conhecer o trabalho realizado a nível nacional, o responsável afirmou: «ficámos impressionados com o trabalho que está a ser feito para proteger o património cultural da erosão em Portugal».
Apesar dos problemas identificados, os especialistas têm também estudado possíveis soluções para minimizar o impacto das alterações climáticas e partilharam conhecimento sobre tecnologias de monitorização e salvaguarda. O painel de oradores convidados incluiu não apenas arqueólogos do Património Cultural, I.P. (Divisão de Arqueologia, Território e Valores Ambientais), do Riksantikvaren mas também de Universidades, Sítios e Museus portugueses e noruegueses. O painel de especialistas portugueses e noruegueses – arqueólogos, geógrafos, geólogos, geofísicos – partilhou experiências e iniciativas, estabelecendo pontes colaborativas.
Ana Catarina Sousa, Vice-Presidente do Conselho Diretivo do Património Cultural, I.P. explicou que «este workshop discutiu quadros de referência, metodologias de diagnóstico e de intervenção tendo como objetivo a futura definição de uma estratégia nacional para a salvaguarda do património costeiro».
Ainda no encontro, também Vegard Berggård, Riksantikvaren – Directorate for Cultural Heritage, destacou a importância do património costeiro em ambos países, referindo a recente aprovação da estratégia nacional para a proteção do património costeiro na Noruega.
O responsável norueguês explicou que quando se falam em medidas para proteger a costa existe necessidade de vários sectores trabalharem em conjunto e, por isso, «é essencial que o sector do património seja envolvido e levado em consideração quando tais medidas são planeadas e implementadas». Nesse aspeto «iniciativas como este workshop ajudam pessoas de diferentes sectores a compreender as preocupações e prioridades umas das outras. Com uma maior cooperação intersectorial, é mais provável que encontremos boas soluções com menos consequências adversas».
Maria João Neves, da Unidade Nacional de Gestão do Mecanismo Financeiro, contextualizou a importância dos projetos bilaterais para os programas EEA Grants.
Associado ao Workshop, o PC, I.P. organizou no dia 10 de fevereiro um programa técnico, onde especialistas noruegueses e portugueses tiveram a oportunidade de fazer uma visita de campo a sítios com relevante interesse do ponto de vista do património costeiro em risco na Lourinhã, em Peniche, em Mafra e em Sintra. Uma iniciativa a que se associaram os executivos dos referidos municípios e equipas de arqueologia municipal.
Os locais em visita foram o Forte de Paimogo (ou de Nossa Senhora dos Anjos de Paimogo), na Lourinhã; o Sítio arqueológico Fortim do Baleal 1, o Memorial do naufrágio do San Pedro de Alcântara e a Gruta da Furninha, em Peniche; os Concheiros da Praia de São Julião em Mafra; e o Sítio Arqueológico do Alto da Vigia, em Sintra.
Ao fim dos dois dias de trabalho, Vegard Berggård, afirmou que «o programa cultural português no âmbito do EEA and Norway Grants tem estado entre os melhores no que diz respeito ao envolvimento da população local nos projetos. E, claro, o foco no património costeiro tem sido muito importante para o lado norueguês. Por um lado, acreditamos que um sólido sector do património costeiro em ambos os países facilitou as boas relações bilaterais. E, por outro lado, que um programa com um foco claro pode ter um impacto maior e resultados mais fáceis de comunicar».
«É claro que este programa teve alguns grandes desafios, mas os bons resultados estão aí para serem vistos hoje. E eles vão durar muito tempo», acrescentou.
Em relação ao futuro relembrou a nova estratégia sobre o património costeiro da Noruega e referiu que apesar de ainda não se saber a futura participação de Portugal no EEA and Norway Grants, tem consciência que na Noruega existem «muitos desafios comuns onde precisamos de trocar conhecimentos e experiências» e «quando se trata do património arqueológico costeiro em perigo, vimos o quanto nós, na Noruega, temos que aprender com os nossos colegas portugueses. Portanto, seria benéfico continuar cooperando no tema», concluiu.
FOTOGALERIA
Fotos de Arlindo Homem | PC, I.P.
e de Teresa Simões | Museu Arqueológico de S. Miguel de Odrinhas
Vídeo do Workshop bilateral (Portugal-Noruega) SALVAGUARDA DO PATRIMÓNIO ARQUEOLÓGICO COSTEIRO EM RISCO Parte 1 e Parte 2
PROGRAMA do Workshop
LOCAIS VISITADOS DURANTE SAÍDA DE CAMPO
Forte de Paimogo (ou de Nossa Senhora dos Anjos de Paimogo) Paimogo Fort (or of Our Lady of the Angels of Paimogo)

O Forte de Paimogo, classificado como Imóvel de Interesse Público está situado sobre as arribas da Praia de Paimogo, no concelho da Lourinhã. Foi construído em 1674 por ordem de D. António Luís de Menezes, Conde de Cantanhede também conhecido por Marquês de Marialva e herói das guerras da Restauração da Independência. Trata-se de um pequeno forte abaluartado, de arquitetura militar barroca, de planta quadrangular que possui guaritas cilíndricas de cobertura cónicas. Tinha por missão específica a defesa da praia do mesmo nome, de modo a impedir o eventual desembarque de tropas inimigas naquele local de fácil acesso. Este forte estava integrado na segunda linha defensiva fortificada, que começava na Praça-Forte da vila de Peniche e se estendia até à Barra do Tejo.
A requalificação e salvaguarda do Forte de Paimogo foi financiada pelo Programa Cultura dos EEA Grants 2014-2021.
The Paimogo Fort, listed as a Property of Public Interest, is located on the cliffs of Paimogo Beach, in the municipality of Lourinhã. It was built in 1674 by order of D. António Luís de Menezes, Count of Cantanhede also known as Marquis of Marialva and hero of the wars of the Restoration of Independence. It is a small bastioned fort, with baroque military architecture, with a quadrangular plan and cylindrical sentry boxes with conical roofs. Its specific mission was to defend the beach of the same name, to prevent the eventual landing of enemy troops in that easily accessible location. This fort was integrated into the second fortified defensive line, which began at the fort in the village of Peniche and extended to the Tagus River.
The revitalization and safeguarding of Paimogo Fort was funded by the EEA Grants Culture Program 2014-2021.
Sítio arqueológico Fortim do Baleal 1
Fortim do Baleal 1 archaeological site

Durante as prospeções arqueológicas realizadas em Ferrel em 2015, integradas na Carta Arqueológica de Peniche, foram identificados vestígios de concheiros num caminho de ligação a um outro sítio arqueológico, identificado como Fortim do Baleal. O sítio arqueológico apresenta uma reduzida densidade de material, mas as presenças parecem confirmar uma cronologia pré-histórica, possivelmente neolítica, e uma funcionalidade relacionada com a exploração dos recursos aquáticos.
During archaeological surveys carried out in Ferrel in 2015, as part of the Archaeological Map of Peniche, traces of shell middens were identified on a path connecting to another archaeological site, identified as Fortim do Baleal (a small fort). The archaeological site presents a reduced density of material, but the presence seems to confirm a prehistoric chronology, possibly Neolithic, and a functionality related to the exploitation of aquatic resources.
Memorial do naufrágio do San Pedro de Alcantara
San Pedro de Alcantara shipwreck memorial site

Este memorial foi construído no local onde foi escavado o depósito funerário relativo ao naufrágio do navio espanhol San Pedro de Alcantara, que se afundou nos penhascos da Papoa, em Peniche, na noite de 2 de fevereiro de 1786, com 400 pessoas a bordo e uma carga excecional de ouro, prata e cobre, provocando a perda de 128 passageiros. Foi objeto de um dos mais importantes projetos de investigação da arqueologia subaquática portuguesa, que incluiu a escavação da vala comum das vítimas que deram à costa nos dias seguintes ao naufrágio.
This memorial was built on the site where the burial deposit relating to the shipwreck of the Spanish ship San Pedro de Alcantara was excavated, which sank on the cliffs of Papoa, in Peniche, on the night of February 2, 1786, with 400 people on board and an exceptional cargo of gold, silver and copper, causing the loss of 128 passengers. It was the subject of one of the most important research projects in Portuguese underwater archaeology, which included the excavation of the mass grave of the victims who arrived on the coast in the days following the shipwreck.
Gruta da Furninha
Furninha Cave archaeological site

A Gruta da Furninha, em Peniche, é uma cavidade natural que foi ocupada pelos nossos antepassados. Durante o período Paleolítico foi um abrigo. Mais tarde, no período Neolítico (até há cerca de 6000 anos), foi utilizado como necrópole. Joaquim Nery Delgado, membro do Comité Geológico Português, escavou esta gruta em 1865 e 1879-1880. Esta intervenção permitiu identificar vários vestígios do Homem de Neandertal e do Homo Sapiens, e fauna do período Quaternário (peixes e mamíferos) e diferentes utensílios de pedra (machados de mão, pontas de flecha, machados em pedra polida), osso e cerâmica, destacando-se os vasos de suspensão neolíticos, ditos “da Gruta da Furninha”
Furninha Cave in Peniche is a natural cavity that was occupied by our ancestors. During the Paleolithic period it was a shelter. Later in the Neolithic period (till around 6000 years ago) it was used as a necropolis. Joaquim Nery Delgado, a member of Portuguese Geological Committee, excavated this cave in 1865 and 1879-1880. This intervention allowed to identify various traces of Neanderthal Man and Homo Sapiens, and fauna of the Quaternary period (fish and mammals) and different stone utensils (hand axes, arrow heads, axes in polished stone), bone and ceramics, pointing out the Neolithic suspended vases called “Furninha Cave vases”.
Concheiros da Praia de São Julião
Praia de São Julião shell middens

São Julião fica no concelho de Mafra, no distrito de Lisboa. Este concheiro fica na foz da Ribeira do Falcão, um pequeno ribeiro que desagua no Oceano Atlântico. Na vertente norte da Ribeira do Falcão, o fundo do vale encontra-se preenchido por duas gerações de dunas. A erosão ocasional da duna móvel mais recente permitiu a identificação de um nível descontínuo de concheiros ao longo do bordo norte, a cerca de 200 m.
São Julião is in the municipality of Mafra, in the Lisbon district. This shell midden is at the mouth of the Ribeira do Falcão, a small stream of water that flows into the Atlantic Ocean. On the northern slope of the Ribeira do Falcão, the valley bottom lies filled by two generations of dune. The occasional erosion of the most recent mobile dune, allowed the identification of a discontinuous level of shell midden along the northern border, about 200 m.
Sítio Arqueológico do Alto da Vigia
Alto da Vigia archaeological site

Sítio arqueológico classificado correspondente a um santuário romano (século II) dedicado ao sol e ao oceano e um ribat islâmico, ou seja, um complexo religioso e militar, com pelo menos um mihrab e níveis de ocupação associados datados dos séculos XI e XII. Estas últimas construções reutilizavam como material de construção elementos arquitetónicos e epigráficos romanos.
Classified archaeological site corresponding to a Roman sanctuary (2nd century) dedicated to the sun and the ocean and an Islamic ribat, that is, a religious and military complex, with at least one mihrab and associated occupation levels dating from the 11th and 12th centuries. These last constructions reused Roman architectural and epigraphic elements as building materials.