“Festa das Cruzes” de Barcelos e “Festa de S. Gonçalinho” de Aveiro inscritas no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial
O Património Cultural, Instituto Público (PC, IP) aprovou a inscrição da Festa das Cruzes, de Barcelos, e da Festa de S. Gonçalinho, de Aveiro, no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial (INPCI), conforme despachos de 27 de dezembro de 2024, assinados pelo Presidente do PC, IP, João Soalheiro, e publicados hoje, 13 de janeiro em Diário da República.
Festa das Cruzes, Barcelos
A Festa das Cruzes é uma romaria que se realiza anualmente, com uma variação de dias do calendário, entre final de abril e início de maio. Em Barcelos, o culto ao senhor Bom Jesus da Cruz tem mais de 500 anos e a sua origem na Lenda do Milagre da Cruz.
A lenda remonta 1504, sob o reinado de D. Manuel I, e conta que “numa sexta-feira, dia 20 de dezembro, por volta das 9 horas da manhã, o sapateiro João Pires regressava da missa da ermida do Salvador. Ao passar no campo da feira de Barcelos, observou na terra uma Cruz de cor preta. Como não quis guardar só para si aquilo que considerou ser um sinal sagrado, alertou o povo, que depressa veio ao local. As cruzes apareciam sob a forma de uma nódoa negra que ia crescendo até se formar uma cruz perfeita, em que a cor não ficava só à superfície, mas penetrava em profundidade na terra. Por mais que se cavasse, sempre se achava” (saber mais no website do Município de Barcelos).
No local em que apareceu a cruz negra terá sido erguido um cruzeiro de pedra e depois uma Ermida que acolheu a imagem flamenga do Senhor da Cruz (inícios do século XVI). Dois séculos depois (1704), terá ali sido construída a Igreja do Senhor Bom Jesus da Cruz, que é hoje o epicentro da Festa das Cruzes.
“Este dia é consagrado sobretudo às celebrações religiosas, a Missa Solene, e a Procissão da Invenção da Santa Cruz, atualmente com as suas 89 cruzes paroquiais. Durante o calendário festivo vão-se perfilando apresentações e performances de igual importância, a saber: os Arcos de Romaria e Tapetes de Pétalas, elementos identitários desta festa; a Batalha das Flores; os vários espetáculos pirotécnicos; animação de rua feita por ranchos folclóricos e grupos de Zés Pereiras; concertos musicais; diversões e carrosséis; animação noturna no arraial Bamos às Cruzes; e a restauração ambulante”, indica o Município de Barcelos no processo de inscrição no INPCI.

No âmbito desta romaria, uma diversidade de grupos, comunidades e indivíduos, mobiliza-se para uma participação alargada de vários setores da sociedade civil, religiosa, militar, associações, município, Real Irmandade do Senhor Bom Jesus da Cruz de Barcelos, entre outros. A celebração leva para a rua toda a população do concelho de Barcelos e atrai ainda a população dos concelhos limítrofes, turistas nacionais e da Galiza.
De acordo com fontes orais, os Arcos da Romaria remontam à década de 60, são elementos festivos e representações evocativas de fachadas de igrejas e capelas onde a Festa ocorre. Os grupos envolvidos na criação e construção dos Arcos de Romaria podem variar entre três e cinco pessoas, existindo grupos que podem atingir dez indivíduos ou mais. Dependendo da complexidade de cada Arco de Romaria, os grupos organizam-se ao longo do ano, tendo em vista a sua conceção do arco. O período em que se realiza a construção dos Arcos da Romaria é assinalado, por vezes, em eventos festivos de cada grupo, celebrados com música, comida e bebida. O número de Arcos construídos corresponde às freguesias do concelho de Barcelos.
Outros elementos identitários da Festa das Cruzes, são os “Tapetes de Pétalas”, padrões florais instalados nos espaços religiosos, com origem nos anos 30 do século XX, e a “Batalha das Flores” que a 1 de maio avança com a organização de dois cortejos opostos pelas ruas de Barcelos num desfile de carros alegóricos, um momento de efusiva manifestação da comunidade e de convívio intergeracional que, simbolicamente, traduz um enaltecimento à natureza.
O pedido de registo da Festa das Cruzes no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial foi proposto pela Câmara Municipal de Barcelos.
Festa de S. Gonçalinho, Aveiro
A Festa de S. Gonçalinho, integrada no domínio de práticas sociais, rituais e eventos festivos realiza-se, anualmente, na primeira quinzena de janeiro, no Bairro da Beira-Mar, em Aveiro, mais concretamente na Igreja de S. Gonçalinho.

A festividade decorre de quinta-feira a segunda-feira, tendo como referência o dia 10 de janeiro, Dia de S. Gonçalo de Amarante (data da sua morte), sendo assinalado com eucaristia.
Um dos aspetos mais distintivos desta celebração é o lançamento, durante todos os dias da festa, de cavacas (bolos rijos cobertos de calda de açúcar) do topo da capela em pagamento de promessas. “A segunda-feira, dia de encerramento da Festa, é, igualmente, de particular relevância, nomeadamente porque tem lugar a Dança dos Mancos e a Entrega dos Ramos. Toda a população de Aveiro e visitantes de fora participam nas festividades, contudo, a Festa tem um significado profundo para os moradores do Bairro da Beira-Mar que se envolvem diretamente na sua organização e na sua vivência“, indica o Município de Aveiro no processo de proposta de inscrição da manifestação no INPCI.
A Mordomia de S. Gonçalinho, composta por elementos da comunidade que vestem o famoso “Gabão de Aveiro” (capa-casaco de burel castanho), é a responsável pela organização dos festejos inerentes à Festa de S. Gonçalinho. Esta manifestação cultural, cuja origem se mantém inclusa, tem muita adesão quer em Aveiro como a nível nacional.
As duas inscrições – das Festa das Cruzes e da Festa de S. Gonçalinho – no INPCI refletem os critérios constantes no artigo 10.º do Anexo ao Decreto-Lei n.º 149/2015, de 4 de agosto, que destaca “a importância da manifestação do património cultural imaterial enquanto reflexo da identidade da comunidade envolvente e a sua profundidade histórica e evidente relação com outras práticas inerentes à comunidade”.