Investigação do Laboratório de Arqueociências publicada em revista internacional
Equipa de investigadores internacional, que contou com a colaboração de Ana Maria Costa, do Laboratório de Arqueociências – LARC, do PC, IP, como primeira autora, desenvolveu um estudo no estuário do rio Laksar, em Alcácer Ceguer (Marrocos), e chegou à conclusão que a ocupação portuguesa naquele sítio arqueológico entre 1458 e 1550 promoveu algumas das alterações nas condições ambientais do estuário identificadas no sedimento.
Mais de meio século depois da presença portuguesa no local, foi possível chegar a esta conclusão graças à análise a sedimentos ali existentes e que contêm informação como cápsulas do tempo.
“Através do estudo da componente geológica podemos saber de onde vieram os sedimentos e como foram ali parar. Pelo estudo da componente orgânica ou biológica conseguimos caracterizar o ambiente em que se formaram, e que plantas e animais ali existiam, e o estudo da componente antrópica ajuda a determinar que atividades humanas ali tiveram lugar”, explica Ana Maria Costa, do LARC.
“Os sedimentos são os materiais que embalam os achados arqueológicos, e são os materiais que se depositam em bacias sedimentares, como os rios, os estuários, os lagos e o mar, durante todos os períodos cronológicos. Permitem compreender como se formaram os sítios arqueológicos e que processos de alteração sofreram ao longo do tempo e, em simultâneo, compreender a paisagem e o ambiente em que as ocupações dos sítios arqueológicos tiveram lugar”.
No estudo, publicado em Open access na edição de 17 de novembro de 2024, da revista científica Quaternary International, os investigadores concluíram que no local “os padrões de sedimentação foram alterados”, ou seja, “houve alterações nas condições ambientais do estuário que ocorreram devido à ocupação e utilização do espaço pelos portugueses”, e que “as atividades ali desenvolvidas promoveram processos de assoreamento de parte do estuário”.
Um conhecimento atualmente muito relevante para determinar como as atividades antrópicas influenciaram os estuários e as zonas costeiras. Ao sabermos como estas áreas naturais responderam no passado, podemos tentar saber como vão responder no futuro a alterações naturais e humanas.
“Sabemos que, pelo menos, nos últimos 2000 anos, um clima generalizado mais seco e a desflorestação levada a cabo para a criação de espaços urbanos e agrícolas tem aumentado a quantidade de sedimentos que são transportados para os estuários e lagoas costeiras. O aumento do sedimento promove o assoreamento destas áreas tão ricas e utilitárias para diversas atividades humanas, por vezes até destruindo o ecossistema”, explica Ana Maria Costa
Ler artigo Environmental changes and historical occupation at Oued Laksar (Ksar Seghir), Morocco
https://doi.org/10.1016/j.quaint.2024.10.010