
Igreja de Fiães com o seu recheio, bem como os elementos que restam do antigo mosteiro - detalhe
Designação
Designação
Igreja de Fiães com o seu recheio, bem como os elementos que restam do antigo mosteiro
Outras Designações / Pesquisas
Mosteiro de Fiães / Igreja Paroquial de Fiães / Igreja de Santo André (Ver Ficha em www.monumentos.gov.pt)
Categoria / Tipologia
Arquitectura Religiosa / Igreja
Inventário Temático
-
Localização
Divisão Administrativa
Viana do Castelo / Melgaço / Fiães
Endereço / Local
- -
Lugar do Convento
Proteção
Situação Actual
Classificado
Categoria de Protecção
Classificado como MN - Monumento Nacional
Cronologia
Decreto n.º 129/77, DR, I Série, n.º 226, de 29-09-1977 (esclareceu que a classificação passa a abranger toda a igreja com o seu recheio, bem como os elementos que restam do antigo mosteiro) (ver Decreto)
Decreto de 16-06-1910, DG, n.º 136, de 23-06-1910 (classificou Trechos da Igreja de Fiães) (ver Decreto)
ZEP
-
Zona "non aedificandi"
-
Abrangido em ZEP ou ZP
-
Abrangido por outra classificação
-
Património Mundial
-
Descrição Geral
Nota Histórico-Artistica
A igreja românica de Fiães tem sido uma das mais debatidas, na questão da organização espacial e estrutural entre cluniacenses e cistercienses. A maioria dos autores tem considerado o templo como uma obra unicamente cisterciense, mas indícios há que apontam para que, pelo menos, parte do monumento que chegou até nós seja anterior, da época em que o cenóbio era regido por monges beneditinos.
Sabemos que estes detinham a propriedade nos meados do século XII, altura em que D. Afonso Henriques coutou o mosteiro (ALVES, 1982, p.112). Na segunda metade da centúria, passou para a posse da Ordem de Cister, em data ainda desconhecida, mas que se deverá situar entre 1173 e 1194, filiando-se, então, em São João de Tarouca (PINTO, 1997, p.10). Esta radical mudança - que implica assinaláveis diferenças ao nível dos modelos arquitectónicos e artísticos empregues pelas duas Ordens -, não encontra testemunhos inequívocos na igreja, debatendo-se, ainda, o que corresponderá a cada momento.
O plano do corpo, organizado em três naves de quatro tramos, separadas por arcarias longitudinais de arcos de volta perfeita, denuncia um modelo planimétrico estritamente beneditino e aplicado ao longo de todo o século XII nos maiores mosteiros da Ordem de Cluny em Portugal (REAL, 1982, p.120). Posteriormente a esta referência, Luís de Magalhães Pinto tentou alargar as evidências beneditinas a outras partes da igreja, como à cabeceira e ao arco triunfal (PINTO, 1997, pp.12-13 e 19-22), sugestão amplamente discutível e baseada em argumentos que não se podem equiparar aos invocados para o corpo do templo.
Mais pacíficas parecem ser as obras patrocinadas pelos cistercienses, a partir do 3º quartel do século XII. A cabeceira tripartida e escalonada, com planta quadrangular, é um dos aspectos mais característicos desta renovação, por oposição à preferência beneditina por modelos de capela-mor e absidíolos de planta circular. A ábside, de dois tramos e abóbada de berço quebrado, é iluminada por duas frestas, e toda esta parte tem vindo a ser considerada como "uma realização programada segundo o melhor espírito cisterciense" (ALMEIDA, 2001, pp.136-137).
A semelhante conclusão chegamos ao analisar outras partes do conjunto. Uma delas é a sua decoração, caracterizada por uma quase total ausência de motivos ornamentais, opção que se adapta, na perfeição, aos principais valores da Ordem: "simplicidade, austeridade e pragmatismo" (ROSAS, 1987, vol.1, p.69). Se, menos de meio século antes, a exuberância decorativa de influência galega havia invadido as igrejas do Alto Minho, criando o mais densamente decorado foco de templos românicos portugueses, o projecto cisterciense de Fiães inaugurava um novo caminho, depurado e sóbrio, que teve eco regional na arquitectura do século XIII.
O portal principal, entre dois contrafortes poderosos e limitado, superiormente, por uma cornija, segue a mesma tendência anti-decorativista. De perfil apontado e com quatro arquivoltas, não possui capitéis ou bases, sendo apenas interrompido horizontalmente por uma imposta contínua.
Nos séculos seguintes, o Mosteiro foi alvo de grandes modificações. As partes altas da fachada principal foram refeitas no século XVII, reforma de que datam os janelões e os nichos com as imagens de Nossa Senhora, São Bento e São Bernardo. As dependências conventuais foram também bastante adulteradas e grande parte delas não chegou, sequer, aos nossos dias. Do claustro, promovido pelos cistercienses no século XIII, e que já se achava em ruínas em 1533, apenas subsiste um fragmento de capitel duplo, de decoração vegetalista com crochet (PINTO, 1997, p.24).
Extinto em 1834, o mosteiro passou para a posse de privados pouco depois, procedendo-se, a partir de então, à destruição das alas monacais. As campanhas de restauro, efectuadas nas décadas de 50 e de 60 do século XX, por seu turno, não alteraram significativamente a estrutura, que manteve, à vista, a maioria dos seus elementos medievais.
PAF
Bibliografia
Título
História da Arte em Portugal - O Românico
Local
Lisboa
Data
2001
Autor(es)
ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de
Título
O Minho Pittoresco
Local
Lisboa
Data
1887
Autor(es)
VIEIRA, José Augusto
Título
Os túmulos de D. Pedro e D. Inês, História da Arte Portuguesa, vol.1, 1995, pp.446-454
Local
Lisboa
Data
1995
Autor(es)
MACEDO, Francisco Pato de, GOULÃO, Maria José
Título
O mundo românico (séculos XI-XIII), História da Arte Portuguesa, vol.1, Lisboa, Círculo de Leitores, 1995, pp.180-331
Local
Lisboa
Data
1995
Autor(es)
RODRIGUES, Jorge
Título
Necrópoles e sepulturas medievais de Entre-Douro-e-Minho: séculos V a XV
Local
Porto
Data
1987
Autor(es)
BARROCA, Mário Jorge
Título
Arquitectura Românica de Entre Douro e Minho
Local
Porto
Data
1978
Autor(es)
ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de
Título
O Mosteiro de Fiães. Um Românico beneditino, Estudos Regionais, nº18, pp.7-25
Local
Viana do Castelo
Data
1997
Autor(es)
PINTO. Luís de Magalhães Fernandes
Título
A Igreja do Mosteiro de Fiães, VI centenário da tomada do castelo de Melgaço, pp.77-86
Local
Melgaço
Data
1991
Autor(es)
ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de
Título
Uma visita às ruinas do Real Mosteiro de Fiães
Local
Lisboa
Data
1903
Autor(es)
OLIVEIRA, Guilherme
Título
O Mosteiro de Fiães. Notas para a sua história
Local
Braga
Data
1990
Autor(es)
MARQUES, José
Título
A escultura românica das igrejas da margem esquerda do Rio Minho, 2 vols.
Local
Porto
Data
1987
Autor(es)
ROSAS, Lúcia Maria Cardoso
Título
Primeiras Impressões sobre a Arquitectura românica portuguesa, Revista da Faculdade de Letras do Porto, Série História, nº1, pp.3-56
Local
Porto
Data
1972
Autor(es)
ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de
Título
Igrejas e capelas românicas da Ribeira Minho, Caminiana, ano IV, nº6, pp.105-152
Local
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Data
1982
Autor(es)
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Título
A organização do espaço arquitectónico entre beneditinos e agostinhos no século XII, Arqueologia, nº6, pp.118-132
Local
Porto
Data
1982
Autor(es)
REAL, Manuel Luís
Título
Alto Minho
Local
Lisboa
Data
1987
Autor(es)
ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de
Título
Arquitectura religiosa do Alto Minho, 2 vols.
Local
Viana do Castelo
Data
1987
Autor(es)
ALVES, Lourenço
Título
História da Arte em Portugal, vol. 3 (o Românico)
Local
Lisboa
Data
1986
Autor(es)
ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de
Título
Melgaço medieval
Local
Melgaço
Data
1975
Autor(es)
PINTOR, Manuel Bernardo
Título
Subsídios para a história da Ordem de Cister no Alto-Minho, Caminiana, nº14, pp.193-214
Local
Caminha
Data
1987
Autor(es)
RODRIGUES, Henrique Fernandes
Título
O património cultural do Alto Minho (civil e eclesiástico). Sua defesa e protecção, Caminiana, ano IX, nº14, pp.9-80
Local
Caminha
Data
1987
Autor(es)
ALVES, Lourenço